Morar em um carro dá muita perspectiva sobre o que realmente é necessário para viver. Mais uma vez, estávamos deixando o conforto de nossa casa para nos aventurarmos por 60 dias, morando no nosso Fiesta 1.0 2013 pelo Brasil. Em 2022, rodamos quase toda a Argentina desse mesmo jeito, e nossos espíritos inquietos estavam clamando por mais.
O plano desta vez era um pouco mais modesto do que os 12.000 km percorridos entre terras tupiniquins, argentinas e até chilenas. O plano agora era metade disso, 6.000 km, porém com 33 destinos no total, 6 a mais do que na Argentina. Nosso roteiro incluía turismo em praticamente todos os destinos, algo que não aconteceu na Argentina, onde muitas cidades eram apenas passagem, e nosso tempo nelas se resumia a uma noite ou metade de um dia.
Acordamos cedo, nos despedimos de nossas famílias e, depois de um jogo de Tetris entre malas e outros itens no Vicente, estávamos prontos para sair do Rio com destino a Marataízes, no Espírito Santo. Eu confesso que não sabíamos muito bem o que esperar do Espírito Santo. Pouco se fala sobre o estado, e estávamos muito empolgados com o que aconteceria quatro dias à frente, nosso passeio para o Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, onde iríamos avistar baleias-jubarte. Por isso, não criamos muitas expectativas nem roteiros sobre as terras capixabas.
Levamos cerca de 8 horas, com paradas para esticar as pernas e almoçar, até finalmente chegarmos ao Camping do Jubarte. Já eram umas 20h e fomos recepcionados pela Claudia, dona do camping, uma pessoa adorável que decidiu passar a aposentadoria à beira da praia, abrigando viajantes e vendendo artesanato.
O camping é um pequeno paraíso pé na areia em uma restinga protegida, com lindas falésias e uma praia deserta. Conta com a proteção de três lindos doguinhos resgatados que nos acompanhavam durante nossas caminhadas. O início da viagem estava um pouco frio ainda, afinal era inverno, e pelo Sudeste isso ainda faz alguma diferença na temperatura. A água também não estava tão convidativa, fria e um pouco barrenta por conta das chuvas recentes e do rio que deságua ali perto.
Decidimos apenas caminhar, conversar e apreciar a maravilha que é uma praia sem JBL em alto volume e sem pessoas amontoadas dividindo cada metro quadrado de areia.
A cidade é bem tranquila. Como qualquer cidade pequena que se preze, tem sua igrejinha e praça, alguns botecos com nomes duvidosos e uma borracharia chamada Dois Irmãos. Passeamos também pela Praia do Siri, que na verdade é uma lagoa com diversos bares e quiosques, que parece atrair uma boa vida noturna nos finais de semana. Carla perdeu os óculos de sol, algo que já é quase uma tradição em nossas viagens, junto com ser picada por uma abelha (o que aconteceria mais para frente em outro destino).
Ficamos apenas um dia, mas aproveitamos mais do que esperávamos, começando por conhecer a história da Claudia, que foi tão gentil conosco. Ela fez um bolo de cenoura inesquecível e nos presenteou com um de seus artesanatos. Carla, que ama artesanato (me faz visitar cada feirinha em cada cidade que vamos), ficou apaixonada. Brincamos com os doguinhos, caminhamos entre lindas falésias na praia e, em poucas horas longe do Rio, já tínhamos o gostinho do porquê gostamos tanto dessa vida simples, minimalista, livre e natural. Com o Vicente abastecido (com uma gasolina relativamente barata até então) e renovados, partimos para o nosso próximo destino.