Itacaré foi uma grata surpresa que não estava no roteiro que a Carlinha criou para nossa roadtrip. Nosso plano era ir de Porto Seguro para Ilhéus, um lugar que a Carlinha já tinha visitado e guardava ótimas recordações, mas, quando chegamos lá, o tempo não estava ajudando muito. Estava nublado e frio pela primeira vez desde que chegamos à Bahia. A cidade estava muito deserta e com um ar meio diferente do que estávamos experienciando a viagem inteira, parecia uma cidade grande deserta, tipo o centro do Rio de Janeiro num domingo à tarde. Eu (João Paulo) acabei não curtindo muito a vibe e sugeri que seguíssemos viagem até a próxima cidade. Tínhamos uma hora de luz ainda, o suficiente para chegarmos a Itacaré.
Pé na estrada e, enquanto eu pilotava o Vicente (nosso Fiesta 1.0) pelas sinuosas curvas baianas, Carlinha ia fazendo como ninguém o trabalho de copiloto e roteirista da nossa viagem, ajeitando os dados no Trello. Pois é, nós temos tudo anotado de todas as nossas viagens com detalhes e ela procurava algum lugar para ficarmos. O Brasil não é tão amigável com roadtrippers, não tem muitos campings ou lugares com alguma estrutura para estacionarmos e dormir seguros, e muitas vezes recorremos a hostels baratos para pernoitar. A Carlinha achou um pelo Booking e, assim que chegamos, já tínhamos a reserva confirmada. Como dica, eu sempre recomendo usar o Booking para acumular milhas ao longo da viagem.
O hostel era simples, do jeito que estamos acostumados, mas algo nos incomodou. Eles tinham uma política de só permitir a entrada descalço. Até aí, nenhum problema, o objetivo era manter o hostel limpo, mas ele na verdade era bem sujo e 20 segundos andando descalço eram suficientes para deixar a sola do pé imunda, hahaha!
Acomodações à parte, nós agora estávamos em Itacaré, deixamos as malas e fomos logo conhecer o centrinho, que ficava a menos de 1km do hostel. Já deu para perceber que Itacaré era reduto do viajante alternativo, do mochileiro, do surfista, do hippie, um encontro de tribos que deixa a cidade com uma atmosfera bem particular. Viajar de carro em sequência te dá uma perspectiva única dos lugares. Porto Seguro era turística e jovem, Trancoso era luxuosa, Arraial D’Ajuda familiar, Itacaré era lotada de surfistas e hippies prontos para se conectar com a natureza.
Nossa passagem por Itacaré foi curta e ficamos com o sentimento de que é um lugar que pode ser mais bem explorado. O sul da Bahia inteiro, para ser mais preciso, vale um mochilão de uns três meses, que provavelmente faremos em algum outro momento. Um gramado, uma pista de skate, uma curta faixa de areia, um mar de ondas fortes com tons esverdeados, um punhado de pedras e muitos surfistas: apresento-lhes as praias do centro de Itacaré. Estava nublado, mas o mar estava perfeito. Carlinha decidiu ficar no gramado fotografando surfistas e skatistas, e eu não resisti e me joguei no mar ao meio de pranchas e ondas. Algo naquele lugar me atraiu muito, me senti tão conectado com a natureza e estava tão feliz de ter achado aquela pequena cidade que nem sequer estava em nosso roteiro original.
Vida de viajante mochileiro não é apenas diversão e lá estávamos nós, lavando roupa e trabalhando com o laptop no colo, embasbacados com as máquinas de lavar e secar que em uma hora resolviam pilhas e pilhas de roupas sujas e fedorentas. Perdi a conta de quantas vezes pesquisamos para comprar uma máquina dessas para nossa casa quando voltássemos. Foi durante a nossa jornada para lavar roupas que conhecemos o Claudio, um mochileiro ciclista que estava há dois anos viajando pela América do Sul, vivendo do seu artesanato e das suas 1001 táticas para encontrar hospedagens baratas ou gratuitas.
Claudio estava há algumas semanas em Itacaré juntando dinheiro para consertar sua bicicleta, um conserto avaliado em 3000 reais. Esse tipo de viagem nos permite criar melhores amigos das últimas horas, e dessa vez o nosso melhor amigo era o Claudio. Em uma hora, trabalhamos, lavamos roupa e trocamos experiências sobre a estrada e viagens. No final, quisemos comprar uma pulseira com ele para ajudar no projeto de voltar à estrada, mas o Claudio nos presenteou com uma pulseira com as nossas iniciais, algo que prontamente aceitamos e ficamos honrados. Carlinha fez algumas fotos dele para quem sabe, algum dia fazer uma exposição fotográfica com os rostos das pessoas que encontramos durante nossas aventuras mundo afora.
Depois de uma volta pelo centrinho de Itacaré, cheio de artistas de rua e vários restaurantes argentinos (aparentemente os Hermanos gostam bastante de lá), voltamos ao hostel. Na ponta dos pés, entramos (de chinelo, pois somos fora-da-lei) e fomos dormir, pois no dia seguinte era hora de colocar o pé na estrada. Tomamos café com um catarinense que nos disse que todo ano viajava para o nordeste para fugir do frio do sul. Dizia ele que amava Floripa, mas não suportava o frio e por quatro meses ele se tornava um baiano de nascença.
Enfim, era hora de partir para o próximo destino, um dos mais aguardados até então: Morro de São Paulo!