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Conhecemos o berço do Brasil Colônia em Porto Seguro

Pegamos a balsa de Arraial d’Ajuda para Porto Seguro ainda de manhã e, após cerca de 10 minutos de travessia, estávamos chegando ao até então destino mais famoso e turístico da nossa viagem.

 

Não somos fãs de lugares muito turísticos e, ainda na balsa, tivemos um gostinho de um dos muitos motivos pelos quais pensamos assim. Fomos abordados por uma vendedora de apart-hotéis de luxo que nos convidou para, segundo ela, uma rápida palestra na sede da empresa dela em troca de um almoço grátis. A Carlinha tentou desviar e fingir costume, mas eu escutei basicamente blábláblá almoço grátis e, sem hesitar, concordei, pensando eu, no alto da minha ingenuidade esfomeada, que me desviaria rapidamente das investidas e faturaria um banquete real à beira-mar como recompensa.

 

Seguimos a vendedora até o local, de frente para uma enorme estrutura na orla, com restaurante, palco para eventos e tudo mais que se pode esperar de um lugar turístico. Ali ficamos vacinados para algo que se tornou recorrente ao longo da viagem: o assédio de empresas hoteleiras a turistas, tentando atraí-los para suas armadilhas marqueteiras, assim como o Lobo Mau atrai a Chapeuzinho.

 

Em resumo, ficamos duas horas tentando convencer os inúmeros gerentes, supervisores, coachs e gurus que apareceram de que éramos dois viajantes com alma de nômades, que de maneira alguma buscavam um sonho dourado de madame de ter 1/52 avos de um apart-hotel onde quer que fosse. Dormíamos no carro, na estrada, gostávamos de hostels e de conhecer pessoas. Mesmo assim, foram duas horas até eles entenderem que não éramos público-alvo nem em classe social e muito menos em interesse. Tudo isso para saímos de lá com um cupom de 70 dinheiros para um restaurante com ticket médio de 200, além de uma toalha e uma ecobag.

Ok, lição aprendida: duas horas perdidas, um desconto fajuto num almoço mais ou menos, porém a vista à beira-mar era linda e compensou um pouco, rs. Seguimos até o camping do Santinho, recomendação dos amigos que conhecemos em Trancoso, e lá pagamos a menor diária da viagem, 25 reais por pessoa. O camping é bastante humilde, mas o seu Santinho foi tão afetuoso, atencioso e basicamente uma pessoa do bem que nada faltou.

 

Porto Seguro é conhecido por ser o primeiro ponto de avistamento dos portugueses com a costa brasileira; por aqui desembarcaram Cabral e sua tripulação em 1500. Não gosto de dizer que essa é a terra do descobrimento do Brasil; a gente sabe muito bem que o Brasil era povoado pelos indígenas e esses sim são os verdadeiros nativos desse pedaço de terra que chamamos de Brasil. Mas historicamente, por aqui começou o Brasil colônia e fomos conhecer o museu da Epopeia, que conta um pouco dessa história com diversas amostras de pertences dos acervos portugueses e indígenas. Devo dizer que o lugar em si não é grande coisa, mas por lá tem uma réplica de uma caravela portuguesa em tamanho real que é sensacional. Os guias, que são voluntários, nos ajudaram a entender cada aspecto daquela viagem.

 

Para o bem ou para o mal, a humanidade é muito curiosa e corajosa. Com a falta de conhecimento da época, nós concluímos que era preciso mais coragem para atravessar um oceano inteiro do que Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins precisaram para ir até a Lua em 1969. Ainda no museu, vimos uma réplica de uma oca e pertences indígenas da época e, pela primeira vez na viagem, o nosso rolê, que já tinha ido de um simples mergulho até uma aula de biologia marinha em Abrolhos, estava agora se tornando histórico e cultural. Essa diversidade de vibes que temos ao viajar é algo que nos faz sentir vivos e saímos dali renovados para conhecer mais da nossa história.

 

O centro histórico de Porto Seguro tem uma vista linda para o oceano, o marco do descobrimento e algumas das primeiras igrejas do Brasil, como a Igreja Nossa Senhora da Misericórdia, de 1526. Esta conserva a imagem rara do Nosso Senhor dos Passos, com olhos de vidro, dentes de marfim e gotas de sangue confeccionadas com rubi. A Igreja Nossa Senhora da Misericórdia possui estilo barroco e conserva as paredes e a parte central desde sua origem, sendo a igreja mais antiga do Brasil.

 

Ainda fomos agraciados com uma linda apresentação de capoeira que estava rolando por ali, deixando o ambiente tipicamente nordestino. Também visitamos o local onde ocorreu a primeira missa do Brasil. Este não fica no centro histórico e é preciso andar um pouco dentro de uma parte mais distante e humilde da cidade.

 

Parte histórica de Porto Seguro desbravada, a verdade é que a cidade em si não nos agradou. Estava lotada de turistas barulhentos, excursões de formatura de ensino médio com adolescentes fazendo suas dancinhas de TikTok, e isso basicamente não é a nossa vibe. Gostamos de natureza, tranquilidade e silêncio. Então, não quer dizer que a cidade em si seja ruim, só não é a melhor escolha para nós.

No último dia em Porto Seguro, reservamos para conhecer a nossa primeira piscina natural: as piscinas naturais do Recife de Fora. Fomos com a Cia do Mar e pagamos 180 reais por pessoa. As piscinas são lindas, mas recomendo que, se puder, procure um tour mais exclusivo, mesmo que isso seja um pouco mais caro, pois nosso barco tinha mais de 100 pessoas. Para ver as piscinas com aquela transparência, é necessário andar devagar para não levantar areia, algo impraticável com 100 pessoas dividindo um espaço relativamente pequeno. A visibilidade ficou bem prejudicada e não rendeu quase nenhuma foto, mesmo a gente se afastando da multidão e deixando para subir por último na volta para o barco.

 

E assim fechamos Porto Seguro, nosso oitavo destino nessa roadtrip pelo Brasil. Agora era hora de arrumar as coisas no camping para sair bem cedo para o nosso próximo destino, pelas estradas sinuosas e de altos e baixos do sul da Bahia.

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